Angustiado,
olhava pela janela o céu, com suas nuvens brancas
e aquele infinito azul ao fundo. Foi então que percebi um pássaro
voando, e nunca senti tanta inveja de poder estar flutuando nos ares,
ao sabor do vento, livre
enfim, mas é um dom de Deus que os pássaros tem. Este
ato mágico que é voar. Como um simples humano tenho o dom de
caminhar, que é uma dádiva. Sempre estive preso a convenções,
sempre pensei nos outros, antes de mim, sempre me podei, não me
deixando ser eu mesmo. Antes tinha pai, tinha mãe e os devia
respeito, embora
soubessem
como eu era. Eu
que não
aceitava, e não
entendia por que não conseguia ser feliz completamente.
Achando
que poderia magoá-los, e era tudo o
que não queria, sempre
aos amei demais, e eles me amavam mais ainda, e assim foi o tempo
passando. E eu
sendo
o que poderia ser, o que não chamaria a atenção dos outros. Como
se os outros fossem mais importantes que minha verdadeira essência.
Sempre foi tabu
pessoas do mesmo sexo
namorarem, pelo menos foi o que me passaram, não por maldade, mas
por aprenderem assim,
que não era normal... e eu vivi
e me criei neste meio, sempre tentando me encaixar, tentando namorar
garotas, mas desejando garotos, até que disse para minha mãe que
não teria filho
natural e nem me casaria, com mulher pelo menos. Na
verdade meus pais sabiam o filho que tinham, não me amaram menos por
isso, eu que criei um casulo e me mudei pra dentro dele. Mas sempre
existiu uma infelicidade dentro de mim, até me apaixonar por um
cara.
Um grande desastre. Tive certeza então de minha eterna solidão. E
com isso comecei a me isolar dos amigos, e
comecei a me alimentar da solidão, chegando a gostar, não querendo
mais ninguém. Mas
ninguém é feliz sozinho,
disse um poeta uma vez numa música...aquele pássaro voando, como
desejei voar também, mesmo que fosse para meu salto fatal e final
dessa dor, que agora sei de onde vem. Vem da falta de verdade comigo.
Nunca é tarde, penso eu, e outros já
disseram, para ser feliz. Não ser feliz com algum
homem, mas comigo, como
sempre fui, livre,
longe desse casulo que eu mesmo me aprisionei. Sinto-me
melhor à medida que escrevo. A angustia se esvai...
sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
MEU CORAÇÃO PULSA ALEGRE E TRISTE
Por
onde olho,
vejo
um rastro de corações vermelhos,
não
sei se são meus olhos,
alucinação…
não
sei também se estou seguindo este rastro,
ou
fugindo.
Vejo
corações vermelhos…
e
não sei o que é o amor.
Sei
que fui deixado aqui,
só,
sem
pai nem mãe,
apenas
só.
Um
dia meu cão também me deixará,
ele
dorme aos meus pés e é tão velho.
Mantenho
relações estéreis e virtuais,
sem
futuro,
sem
passado,
sem
esperança.
Não
sei porque vejo corações vermelhos por onde ando,
por
onde sonho,
por
onde não sou ninguém.
Contarei
a história triste de minha vida
para
as estrelas,
olhando
para o céu,
implorando
atenção de Deus.
Meu
coração pulsa alegre e triste,
por
estar vivo,
por
viver,
mesmo
só.
Por
onde olho,
vejo
corações vermelhos
em
minha vida,
como um rastro
e resto de esperança.
by Jair Machado Rodrigues
sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
A MORTE NÃO É NADA
A MORTE NÃO É NADA
Poema de Santo Agostinho
"A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Por que eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...
Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi."
in memorian a minha mãe
MARIA ERONI MACHADO RODRIGUES
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